Expresso | Nuno Costa

26 Feb' 25

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O processo começou a ser pensado em 2022, mas foram precisos dois anos para a Quadrante, uma empresa portuguesa de engenharia e consultoria, concluir a aquisição. Em setembro do ano passado, a Quadrante fechava a compra da espanhola Meta Engineering. Não só uma empresa portuguesa adquiria uma concorrente no país vizinho, como absorvia uma empresa maior: aos 590 trabalhadores da Quadrante juntavam-se 650 da Meta Engineering.

Foi o maior passo na expansão da empresa portuguesa. Nuno Costa, presidente executivo (CEO) e um dos fundadores da Quadrante, só lamenta uma coisa:
“Devíamos ter feito esta estratégia de crescimento mais cedo.”

O gestor acredita que o crescimento por aquisições foi um caminho acertado. “Normalmente as empresas estrangeiras compram as portuguesas. Esse é um fado em Portugal enquanto não houver uma atitude dos empresários em fomentar o crescimento das empresas portuguesas”, observa Nuno Costa. Ele explica que tem falado com “pessoas que já tiveram processos de expansão” para evitar cometer erros.

A compra da Meta Engineering, cujo montante não foi revelado, veio juntar-se a outras aquisições de menor porte, como a Infraconsult (2006), a Procesl (2012) e a Viaponte (2016). Essas compras permitiram à Quadrante alargar o âmbito das suas atividades. A Procesl, por exemplo, trouxe ao grupo competências na área dos estudos de impacte ambiental (EIA) e ajudou a fazer da Quadrante uma das principais empresas de EIA em Portugal, responsável por grande parte dos estudos de novas centrais solares, parques eólicos e outros projetos ligados à transição energética.

A Quadrante havia sido fundada em 1998 por Nuno Costa e dois colegas de faculdade, aos quais se juntaria o irmão de Nuno. Os sócios fundadores permanecem juntos. Nessa caminhada, exploraram alguns mercados lá fora, como o Brasil, mas em 2022 decidiram dar um salto maior, com o projeto de avançar para Espanha e Estados Unidos da América (EUA). Só que seria difícil ganhar mercado nos EUA com a dimensão que então a Quadrante tinha em Portugal.

A primeira etapa foi Espanha. Para fazer a incursão no país vizinho, os fundadores da Quadrante perceberam que precisariam de músculo financeiro. Acabaram por ceder 49,5% da empresa ao fundo espanhol de private equity Henko Partners.

“Foi uma decisão ponderada. Não foi difícil, mas foi bastante pensada”, recorda Nuno Costa.

A aquisição em Espanha foi trabalhada durante vários meses, envolvendo uma equipa de uma dezena de pessoas da Quadrante. A escolha do alvo implicou analisar não só o negócio da empresa visada, mas também a qualidade dos recursos humanos. Para Nuno Costa, mais importante do que a complementaridade de negócios é “a cultura da empresa”, de forma a garantir uma boa integração.

Em setembro, a Quadrante acabou por comunicar aos seus funcionários a aquisição. Nuno Costa diz que procurou transmitir “transparência e clareza sobre o processo” e a mensagem de que “a empresa, ao ser maior, tem mais robustez, e as pessoas podem crescer profissionalmente.”

A próxima etapa

A aquisição levou a uma transformação da organização da empresa numa “estrutura matricial de mercados e sectores”, segundo Nuno Costa, cruzando projetos de mobilidade, energia e edifícios urbanos, e geografias como Portugal, Espanha, Europa de Leste e América do Sul.

A Quadrante fechou 2024 com vendas de €57 milhões, e a Meta Engineering com €49 milhões. O novo grupo, que é detido por uma holding designada Compass Group, soma, por isso, uma faturação anual de €106 milhões.

A expansão deverá continuar. A Quadrante abriu um escritório em Houston, nos Estados Unidos da América (EUA), está a recrutar pessoal e pondera fazer uma aquisição naquele país.

“Clientes nossos, como a EDP, Iberdrola, Enel e Naturgy, pediram-nos para criarmos recursos nos EUA, porque precisam de apoio lá”, explica o sócio-fundador da Quadrante.

É sabido que Donald Trump não é um grande entusiasta das energias limpas, mas Nuno Costa acredita que não faltará negócio. “Vamos apostar primeiro em projetos de linhas de transmissão e subestações”, explica, notando que “a ambição implica riscos”.

“Assumir riscos é normal”, reforça.